A lua aqui é
demasiadamente grande,
e eu, estava a
caminho de casa pensando em como muitas pessoas deixam de admirá-la.
Às vezes até estão
em baixo dela, mas estão a se ocupar ou preocupar com outras coias.
Estava a pensar na
imensidão e a beleza, não só da lua, mas da natureza em si. (acabara de sair de
uma aula chamada Arte, meio ambiente e Naturaleza).
e um som, de uma
flauta quem sabe, estava a passear pelas ruas e ecoava nas paredes grandes de
pedras de toda a rua em que eu estava a caminhar. Quanto mais andava, mas
percebia que chegava perto do som, porque ele ia aumentando e aumentando.
Era um homem no meio
da rua a tocar. Quando avistou meu cigarrilho entre os dedos, logo parou de
tocar e me pediu um. Parei imediatamente e já fui sacando da bolsa: a seda, o
filtro e meu último "lote" de tabaco, que estava em uma caixinha de
Lactolaxine (que encontrei na casa nova).
Enquanto pegava tudo
isso da bolsa ele disse que tocaria sua música em troca do cigarro. Achei
justo, então não lhe falei nada. Enquanto admirava o som que pode sair de uma
flauta - dessas que compramos nas lojinhas mais furrebas, e que pode nos custar
tão pouco... Desde custo até aprender a tocar... Ouvi um outro, sentado numa
valeta, que também me pedia um cigarro. Mas não respondi, porque estava
trocando palavras como cabeludo, sem os dois dentes da frente e de cima, um
tanto sujo, mas com uma boa blusa de frio, e uma flauta....
O outro veio
chegando e eu, que já quase estava de saída, disse que acabava de dar meu
último cigarrilho ao amigo dele, mas mal acabava de me justisficar e ele pegou
meu braço com tanta força, que tive sei lá, uns dois fios na barriga que foram
e voltaram. Deu medo e ao mesmo tempo não.
Ele estava a colocar
em meu pulso uma pulseira de couro.
Perguntei se era
presente e ele disse não querer nada em troca. Seria um regalo para me dar sorte (Pensei
em rejeitar por que não gosto de coisas que amarrem meu corpo, um tanto
supertição), mas deixei, presente é presente, depois podia guardar.
Ele começou a falar
e com uma voz rouca, creio que também bêbada, e eu punha-me a ouvir.
Me contou da vida na
rua, da mulher - que não entendi muito bem onde exatamente está - mas que está
com sua filha, sobre a dificuldade de sobreviver vendendo suas coisas no
inverno (que daqui a pouco está para chegar), e que também era punk.
Eu olhava nos olhos
(como sempre faço) E os olhos dele anunciavam as lágrimas.
Até que ele tornou
palavra o seguinte pensamento: "é impossível mudar!".
Comecei a falar da
possibilidade de mudança, ele contestou; continuei com meus pensamentos e ele
resolveu ouvir, mesmo falando que se eu conseguisse mudar de personalidade,
então era Deus.
Claro que mudamos,
não sou a mesma desde pequena, nem a mesma quando tinha quinze anos. Nem de
agora pouco. Não sou a mesma depois que (te) conheci, nem a mesma que estava a
sair do Brasil dentro desse mesmo mês. Nem tão pouco a da semana passada que
aceitou ir tomar rum em um parque. Entende?
Disse a ele que
mudamos todos os dias, que ele não é a mesma pessoa depois que sua filha
nasceu. Contei a ele sobre as máscaras que temos, e que não existem para tampar
ou esconder nosso verdadeiro eu. Elas são extensões nossas... como imaginei não
ser natural sempre abordar as pessoas assim, dando seu trabalho.
Disse que falava com
ele com uma máscara, que tão pouco sabia qual era, mas que nessa hora, estava
sendo diferente com ele, de como seria diferente se estivesse falando com minha
mãe ou então, uma atendente de uma loja.
Não me interesso
pela duplicidade, mas pela multiplicidade de pernonas que habitam a gente.
E me pergunto agora
" e por trás das máscaras?"
Sei lá, é o centro
do nosso centro, do nosso eu, que às vezes escolhe o que fica, às vezes aprende
que quando se olha de um jeito que é para dentro - tanto dentro de si como para
dentro dos outros- é mais fácil de diálogar, entender e sentir.
Também me pego
pensando em como é difícil manter-se em pé apesar de todas as possibilidades de
cair (como disse Klee) e que certamente se referia ao problema de equilibrio
estático que gravita o centro da terra.
Não sei, queria que
ele entendesse o mundo de uma forma diferente daquela que estava tornando
palavra, achando tudo pequeno e injusto. Disse que antes de amar os outros
(como ele disse amar sua filha), tem que amar e entender a si mesmo. Isso me
parece uma lei.
O mundo, aliás, as
pessoas tem que se libertar das ansias, das ataduras da terra (da forma como
nascemos para viver) e voar de outra maneira. Um tanto mais livre, de forma que
se leve a pensar sozinho, e refletir sobre sua própria condição e a
"forma" de estar no mundo.
Condição essa que
também muda quando chamamos por mudança.
Para tanto, os eus
que habitam em mim, me parecem cada vez mais sinceros e sem tantas expectativas
materiais.
Sou espírito, sou
dentro.
Mas mudo muito mais
que as estações. Ah sim.
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