.

domingo, 6 de dezembro de 2009

sobre desenho

--> se dissolve sem impacto nenhum pelos
movimentos decorrentes
dos meus olhos.
o negro,
aos poucos toma conta de grande parte, mas a linha continua à dançar,
criando e recriando formas lúdicas
expressamente envolvidas na dor
da vida.
Desliza a linha curta
dança qualquer música, a contínua.
chora a interrompida por não chegar há algum fim,
mas se sente tão em paz,
quanto o branco, que mesmo solitário consegue
transbordar.
-->
chego num ponto, paro
a linha me olha querendo continuar
avanço para um outro espaço,
com uma expressão agressiva faço a linha fina gritar;
rasgando qualquer delicadeza visível,
buscando um rastro
pelo anseio de me fazer desenho,
apago.
apago e refaço.
de tanto acalcar,
a cicatriz no papel chora...
linha querendo ser duas
preto querendo ser branco
grafite tentando ser pranto.
percebo a essência da vida,
continuando seguir outra linha.

terça-feira, 27 de outubro de 2009


desenho para tentar esquecer o qúe dói

não tenho mais forças para escrever


só me resta a sensação de que não completo nem transbordo mais ninguém

deveria eu voltar para o mar (interrogação)


esquecer a idéia de ser porto e ser somente um navio indo de cais em cais (interrogação)

talvez não me entregava tanto,

talves não choveria mais...

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

fragmento

de 16 do nove de 2008


"...explodo e evaporo em mim o tempo todo, e dói.

Existe tanta fumaça aqui,
existe tanto pó aqui
que meus olhos já não sentem mais vontade de se abrir."

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

de algum lugar esquecido

Fecho seus olhos com meus dedos macios, bem devagar para que nenhum toque mais pesado te surpreenda. Você sorri levemente no canto, ergue a sombrancelha e encara meu olhar como se encarasse alguém que não vê há anos. Não consigo te olhar por muito tempo, então abro um sorriso. O meu sorriso maior. Chacoalho minha cabeça, desarrumo e logo em seguida, arrumo meus cabelos compulsivamente.
Você sorri, e agora não economiza na-di-nha desse seu sorriso avermelhado e explosivo.
Em um abraço a gente troca de corpo, rela nas almas, e lentamente nos soltamos até afastarmos uma da outra. Antes aqui, e agora lá. Longe. Distante.
Sua imagem dançando, embaçando minha vista nunca mais vaí sumir. Nunca mais vai fugir.
Foi rápido, mas você sim, entrou em mim como se trouxesse paz. Sem saber que a guerra estava mais próxima que o mar. E como você me lembra o mar.
Hoje sou eu que fecho meus olhos com meus dedos macios. Ainda sinto seu cheiro que lembra uma criança brincalhona e feliz, e é você quem me inspira à felicidade.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

cutuca(r)

a saudade oscila o tempo todo
o espaço que fica aqui dentro
sem você
me vacila inteira...



amarela em mim mais uma vez,
pássaro sombrio;

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

pingos n'alma

te olhar é:

como abrir a boca e esperar os pingos da chuva entrar
ela
molha devagarinho tudo que é seco em mim
alguns pingos no rosto
sinto outros no braço, meu cabelo molhando

e pouco a pouco
vão chegando até a boca
adormecendo a língua quente

sua chuva
escorre sensações indiscretas
escorre e tangencia nossa paixão
levemente secreta.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

quinta-feira, 23 de julho de 2009

pecando

Aqui se meus crimes não fossem de amor, então seriam do quê?
Mordendo cada centímetro de pele
Lambendo cada cicatriz do seu corpo
Transpiro de tesão e de desejo por cada imperfeição (perfeita):
Sua.
Sua pele cheira alegria
Seu gozo me trás energia
O gosto do seu corpo não sai da boca
dos olhos
e das palmas das minhas mãos...
(não durma mais com travesseiros)

terça-feira, 14 de julho de 2009

segunda-feira, 13 de julho de 2009

dores musculares
tenho

medo de andares
tenho.

por isso,

nem ando

nem musculo.

terça-feira, 30 de junho de 2009

há tempos não tomava um banho de chuva andando de bicicleta como hoje tomei. deixei a boca entreaberta e senti o gosto do infinito trazido pelo céu. céu branco com renuncias de cinza. minha respiração era completamente inteira, e aos meus ouvidos, vinha uma canção que marcou demais minha vida há uns anos atrás. acelerada, comecei a vasculhar minha memória e achei imagens vinda de uma linda melancolia que carregava no peito, mas nunca tinha tido coragem de enfrentar.
naveguei como um barco lento, quase chegando no cais. no meio disso tudo, encontrei ela, perdida e ilesa, sentada numa grama qualquer, com pernas de índio e um caderno em branco no colo. ela olhava a página em branco com tanta ternura, que pensei que pudesse haver alguma janela invisível que só ela mesma via. o lápis na mão fazia movimentos de uma espiral, mais em momento algum, este tocava na folha.
o que será que pensava naquele momento tão inoportuno do dia?
um dia tão vazio que não havia sentido para um amor começar ali.
duvidei intensamente da minha imaginação, que criava um novo amor a cada mês, e neste, me encantava inteira por tudo que era estético vindo dela. os joelhos dobrados, um pé mais inclinado que o outro, a composição das blusas, cores diferentes demais uma da outra. cabelo inquieto, molhando, ventando...
até que ela deve ter percebido alguma presença estranha, olhou para o lado e me viu. senti um desespero tão grande, uma imensa vontade de sumir e de rir, mas não consegui fazer nenhum dos dois. continuei ali, olhando da mesma forma que olhava, só que agora enxerguei seus olhos.
e incansavelmente, gritei inúmeras vezes para mim mesma o quanto eles eram lindos e profundos.
pareciam não ter fim.
em cima da bicicleta, lhe dei um sorriso de canto como quem diz que ainda vamos nos encontrar, continuei pedalando, sentindo uma estranha sensação de frio e calor. não conseguia mais pensar em nada que não fosse aquilo. que não fosse ela. quis ser poeta para poder descrever tudo limpidamente.
cheguei em casa toda molhada, me enxuguei, tentei me recompor, mas não dava, estava imersa, noutro lugar.
estranho foi o gosto de amora que ficou na minha boca.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

no mundo simplesmente respiro e tranbordo.
minha angústia é tão vazia quanto o buraco que existe no peito de Chico. tão estúpida agônia, quanto a de ter um último cigarro e todos os fósforos da caixinha já não terem mais pólvora.
ser eu, é ter uma espada que não corta. uma ilusão sem cor, sem forma, sem sabor, mas com muito perfume. como uma música bem tocada. a minha angustia é que todas as moléculas do meu corpo são feitas de saudade, e meu corpo acaba sendo tão atemporal, tão atemporal, que congelo.
sou excesso. sou devaneio. completamente reconexo.
transcendo, corro, navego, navego e choro. navego e choro.
as nuvens cinza de ontem, falam muito mais de mim do que da chuva que ia cair. sou tão nublado que temporal nenhum chove mais do que chove aqui dentro. tão errado, tão confuso. tão terrivel e bandido que nem eu, às vezes, acredito que existo. duvido.
em busca de mim, de um traço que traduza o que sou, percebo que estou cada vez mais longe e quando chego perto, me mudo, me troco. mudo de rosto, de forma. mudo a máscara. e quando, admito que mudei a máscara -BUM
o choque das coisas. choque de sabor. choque de cor. transições. muita dor. só depois que conhecemos as dores da alma, o contato com a angústia quando deciframos o significado do que se sente e que não vem de nenhum corte que se cura com band-aid.
vivo escondido dentro dos meus eus. escondido e perdido.
é como morder por um bom tempo o plástico que encapa a gominha de mel, e quando você menos espera, ele explode adormecendo com o doce, tudo que é seco na boca.
morro mais cedo, sempre mais cedo que minha própria morte.