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quarta-feira, 14 de setembro de 2011

de dentro

A lua aqui é demasiadamente grande,
e eu, estava a caminho de casa pensando em como muitas pessoas deixam de admirá-la.
Às vezes até estão em baixo dela, mas estão a se ocupar ou preocupar com outras coias.

Estava a pensar na imensidão e a beleza, não só da lua, mas da natureza em si. (acabara de sair de uma aula chamada Arte, meio ambiente e Naturaleza).
e um som, de uma flauta quem sabe, estava a passear pelas ruas e ecoava nas paredes grandes de pedras de toda a rua em que eu estava a caminhar. Quanto mais andava, mas percebia que chegava perto do som, porque ele ia aumentando e aumentando.

Era um homem no meio da rua a tocar. Quando avistou meu cigarrilho entre os dedos, logo parou de tocar e me pediu um. Parei imediatamente e já fui sacando da bolsa: a seda, o filtro e meu último "lote" de tabaco, que estava em uma caixinha de Lactolaxine (que encontrei na casa nova).
Enquanto pegava tudo isso da bolsa ele disse que tocaria sua música em troca do cigarro. Achei justo, então não lhe falei nada. Enquanto admirava o som que pode sair de uma flauta - dessas que compramos nas lojinhas mais furrebas, e que pode nos custar tão pouco... Desde custo até aprender a tocar... Ouvi um outro, sentado numa valeta, que também me pedia um cigarro. Mas não respondi, porque estava trocando palavras como cabeludo, sem os dois dentes da frente e de cima, um tanto sujo, mas com uma boa blusa de frio, e uma flauta....

O outro veio chegando e eu, que já quase estava de saída, disse que acabava de dar meu último cigarrilho ao amigo dele, mas mal acabava de me justisficar e ele pegou meu braço com tanta força, que tive sei lá, uns dois fios na barriga que foram e voltaram. Deu medo e ao mesmo tempo não.
Ele estava a colocar em meu pulso uma pulseira de couro.
Perguntei se era presente e ele disse não querer nada em troca. Seria um regalo para me dar sorte (Pensei em rejeitar por que não gosto de coisas que amarrem meu corpo, um tanto supertição), mas deixei, presente é presente, depois podia guardar.

Ele começou a falar e com uma voz rouca, creio que também bêbada, e eu punha-me a ouvir.
Me contou da vida na rua, da mulher - que não entendi muito bem onde exatamente está - mas que está com sua filha, sobre a dificuldade de sobreviver vendendo suas coisas no inverno (que daqui a pouco está para chegar), e que também era punk.

Eu olhava nos olhos (como sempre faço) E os olhos dele anunciavam as lágrimas.
Até que ele tornou palavra o seguinte pensamento: "é impossível mudar!".

Comecei a falar da possibilidade de mudança, ele contestou; continuei com meus pensamentos e ele resolveu ouvir, mesmo falando que se eu conseguisse mudar de personalidade, então era Deus.

Claro que mudamos, não sou a mesma desde pequena, nem a mesma quando tinha quinze anos. Nem de agora pouco. Não sou a mesma depois que (te) conheci, nem a mesma que estava a sair do Brasil dentro desse mesmo mês. Nem tão pouco a da semana passada que aceitou ir tomar rum em um parque. Entende?

Disse a ele que mudamos todos os dias, que ele não é a mesma pessoa depois que sua filha nasceu. Contei a ele sobre as máscaras que temos, e que não existem para tampar ou esconder nosso verdadeiro eu. Elas são extensões nossas... como imaginei não ser natural sempre abordar as pessoas assim, dando seu trabalho.

Disse que falava com ele com uma máscara, que tão pouco sabia qual era, mas que nessa hora, estava sendo diferente com ele, de como seria diferente se estivesse falando com minha mãe ou então, uma atendente de uma loja.

Não me interesso pela duplicidade, mas pela multiplicidade de pernonas que habitam a gente.
E me pergunto agora " e por trás das máscaras?"

Sei lá, é o centro do nosso centro, do nosso eu, que às vezes escolhe o que fica, às vezes aprende que quando se olha de um jeito que é para dentro - tanto dentro de si como para dentro dos outros- é mais fácil de diálogar, entender e sentir.

Também me pego pensando em como é difícil manter-se em pé apesar de todas as possibilidades de cair (como disse Klee) e que certamente se referia ao problema de equilibrio estático que gravita o centro da terra.
Não sei, queria que ele entendesse o mundo de uma forma diferente daquela que estava tornando palavra, achando tudo pequeno e injusto. Disse que antes de amar os outros (como ele disse amar sua filha), tem que amar e entender a si mesmo. Isso me parece uma lei.

O mundo, aliás, as pessoas tem que se libertar das ansias, das ataduras da terra (da forma como nascemos para viver) e voar de outra maneira. Um tanto mais livre, de forma que se leve a pensar sozinho, e refletir sobre sua própria condição e a "forma" de estar no mundo.
Condição essa que também muda quando chamamos por mudança.

Para tanto, os eus que habitam em mim, me parecem cada vez mais sinceros e sem tantas expectativas materiais.

Sou espírito, sou dentro.


Mas mudo muito mais que as estações. Ah sim.