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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

vazio superlotando-se

quero o não fazer sentido
o querer sem querer,
assim:
te olhando como quem não quer nada.
no corpo e no coração você é o que me sobra.

te gosto em cada canto,
te odeio em cada metro,
nosso amor vai de canecas à poesia.
uma pitada de nexo,
amplexo e sexo à gosto.
(Te gosto)

Tudo muito junto, muito a gente, muito tudo.
tudo e nada ao mesmo tempo,
vazio superlotando-se de cheiros e toques.
sem mãos, sem olhares, sem você:
tento rimar sem conseguir,
tento não amar tanto sem conseguir;
Minto.

Quero é morrer de amar, morrer de amor,
morrer de você
pra poder nascer de manhã com gosto de lençol azul
e erva doce, ao lado teu - frouxa, vasta, inteira, minha.

Quero é perder tudo,
casa, sonho, estudo,
mãe, pai, já nem sei quem é quem...
Quero perder o sentido
sentindo teu corpo,
amando teu coração, aquém,
além.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

sen (s) est (a) r ção

Até me senti como se nunca tivesse provado daquilo antes, a sensação que tinha era de que meu corpo todo transbordava esvaziando tudo de liquido que tinha nele, tudo demasiadamente saindo pelos poros. Como se já não houvesse outra forma de me sentir tranqüila se não fosse com aquilo. Provei mais uma vez só para o efeito não se perder rápido, e nessa segunda vez, parecia-me estar perto da morte, mas não era tomada por nenhum medo, nenhuma angustia nada que me deixasse apreensiva. Era irradiada por uma luz latente, que vinha diretamente nos meus olhos dilatando minhas pupilas ao ponto de me sentir um gato que estava no escuro por muito tempo e de repente viu a luz. Cada milésimo de segundo dessa dilatação me fazia ver além do que sempre costumava a ver, vi a forma real da vida ao meu redor, olhei para baixo a procura do meu corpo e não via nada além daquela imensidão amarelada; senti um calafrio bem a baixo de meus cabelos, exatamente no meio da nuca, deixei que ele me tomasse inteira, arrepiando todo o resto do meu corpo. Parecia estar prestes a morrer, pois só pensava em coisas boas e bonitas e românticas e fortes, como nunca havia pensado antes.
Fechei meus olhos, mas a luz forte ainda permanecia acesa, meu corpo estremecia inteiro e a ponta dos meus dedos suava tanto como se o que escorresse fosse sangue de cortes muito profundo. De repente não consegui pensar em nada, e me peguei fitando as sensações que meu corpo estava sentindo: meu sangue corria forte, descia e subia pelo meu corpo numa velocidade inacessível. Meus músculos pulsavam. Sentia a lagrima saindo pelo seu canal e indo a direções de meus olhos. Meus poros se fecharam e meu suor aos poucos foi se contendo. Sentia ainda ele escorrendo pelos meus cabelos, sentia o tecido molhado por ele nas costas. Meus pés formigavam. E meus seios ficaram eriçados. Observei minha respiração que estava bastante tranqüila, com se estivesse dormindo um sono bem leve. Senti um cheiro de alecrim com hortelã como o de um suco que uma vez tomei numa barraca na beira da estrada. Fui a fim de recordar todo aquele gosto, mais nada me vinha além de sua cor: um verde amarelado que tangia toda a nervura das folhas, quase que conseguia tocar o acamurçado que elas tinham.
Logo em seguia havia mudado alguma coisa em mim ou fora de mim que não sabia o que era, abri meus olhos e era a luz que havia apagado, me veio uma tristeza por não ter morrido, por não ter ido mais longe nesse caminho claro e frágil, onde tudo poderia começar a fazer sentido. Onde talvez pudesse me encontrar de verdade, me desfazer da matéria e realmente ver de que cor eu sou. Senti minha boca seca, minha pele voltou a ferver, de repente tudo ficou muito escuro, uma escuridão que nunca imaginei existir, e apos minutos tentando desvendar alguma coisa que fizesse sentido em tudo isso que estava acontecendo, deparei-me com uma luz bem longe, uma luz pequena e de amarelo ouro. Pressenti alguma presença perto, não tive medo, mas também não estava segura. Sem ao menos pensar, joguei-me ao encontro daquela pequena luz que me chamava muita atenção e em segundos pensei ser a única saída para tudo aquilo. Por uns minutos depois da luz tudo era negro novamente e meus pensamentos não eram límpidos, não tinha nenhuma união uns com os outros, parecia-me aquelas seqüência cinematográficas que todos falam ter quando quase morrem. Sentia-me perplexa no meio da escuridão, fechei meus olhos, fiquei um tanto quieta dentro de mim e quando resolvi abrir os olhos, estava deitada, a minha frente havia somente as vigas de madeira do beliche em que dormia eu e meu irmão. Olhei para os lados, nada de diferente. Só meu quarto de sempre, minhas coisas no chão, o dia na janela e mais um sonho árido. Desdenhoso. Rude. Áspero e arisco, que me fez suar enquanto o vivia.