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quarta-feira, 25 de agosto de 2010

não é primavera

Fico incessantemente sem saber o que fazer. Meus olhos estão cansados. Meu coração palpita tanto que agora, de vez em quando, tem acostumado a parar de bater. Talvez seja uma forma que eu esteja encontrando pra voltar a respirar, aliás, é uma daquelas coisas que você se esquece de como fazia antes. Antes desse amor em tempos de guerra aparecer, dilacerar e acabar como se fosse uma coisinha pequenininha e banal. Como se só tivesse acabado a água da geladeira. Mas, não adianta encher mais nada, não adianta abrir torneiras, e distribuir água por todo quintal, molhando as plantas, limpando os pés.
Nesse lugar, longínquo, ninguém mais entra a não ser eu mesma - com minhas trilhões de lembranças e desejos perdidos. Ando devagar quase parando, daquelas que não sabe pra onde vai. Pareço estar à beira de pequenos abismos, o tempo todo. Como se eu não acreditasse nunca que possa cair, mas querendo muito cair. Entende?
Dificilmente vou conseguir me manter aqui por muito tempo, no entanto sabe que passaria o resto dos meus dias ao seu lado. Mas ultimamente, noto que as feridas que abriram no meu corpo inteiro ainda não criaram cascas. Não sou imune a você.
E quando olho no fundo dos olhos quase de mel, sinto um desespero muito imenso, muito fundo, muito agudo. É como se estivesse num mar de álcool com todas as cicatrizes abertas, e ardentes. E o contato é tão mais interno do que carnal, que sinto meu ser inteiro se desfazendo e se desconjurando, deixando de ser tudo, e cada vez mais só sendo você.

domingo, 25 de julho de 2010

terça-feira, 6 de abril de 2010

predestinando os sentidos para que possa caber coisas novas:
cor, olhos, saber sabores
(des)ocupar.

estrutura:
líquido ou sólido
quente ou frio.


Eu e o rio.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

vazio superlotando-se

quero o não fazer sentido
o querer sem querer,
assim:
te olhando como quem não quer nada.
no corpo e no coração você é o que me sobra.

te gosto em cada canto,
te odeio em cada metro,
nosso amor vai de canecas à poesia.
uma pitada de nexo,
amplexo e sexo à gosto.
(Te gosto)

Tudo muito junto, muito a gente, muito tudo.
tudo e nada ao mesmo tempo,
vazio superlotando-se de cheiros e toques.
sem mãos, sem olhares, sem você:
tento rimar sem conseguir,
tento não amar tanto sem conseguir;
Minto.

Quero é morrer de amar, morrer de amor,
morrer de você
pra poder nascer de manhã com gosto de lençol azul
e erva doce, ao lado teu - frouxa, vasta, inteira, minha.

Quero é perder tudo,
casa, sonho, estudo,
mãe, pai, já nem sei quem é quem...
Quero perder o sentido
sentindo teu corpo,
amando teu coração, aquém,
além.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

sen (s) est (a) r ção

Até me senti como se nunca tivesse provado daquilo antes, a sensação que tinha era de que meu corpo todo transbordava esvaziando tudo de liquido que tinha nele, tudo demasiadamente saindo pelos poros. Como se já não houvesse outra forma de me sentir tranqüila se não fosse com aquilo. Provei mais uma vez só para o efeito não se perder rápido, e nessa segunda vez, parecia-me estar perto da morte, mas não era tomada por nenhum medo, nenhuma angustia nada que me deixasse apreensiva. Era irradiada por uma luz latente, que vinha diretamente nos meus olhos dilatando minhas pupilas ao ponto de me sentir um gato que estava no escuro por muito tempo e de repente viu a luz. Cada milésimo de segundo dessa dilatação me fazia ver além do que sempre costumava a ver, vi a forma real da vida ao meu redor, olhei para baixo a procura do meu corpo e não via nada além daquela imensidão amarelada; senti um calafrio bem a baixo de meus cabelos, exatamente no meio da nuca, deixei que ele me tomasse inteira, arrepiando todo o resto do meu corpo. Parecia estar prestes a morrer, pois só pensava em coisas boas e bonitas e românticas e fortes, como nunca havia pensado antes.
Fechei meus olhos, mas a luz forte ainda permanecia acesa, meu corpo estremecia inteiro e a ponta dos meus dedos suava tanto como se o que escorresse fosse sangue de cortes muito profundo. De repente não consegui pensar em nada, e me peguei fitando as sensações que meu corpo estava sentindo: meu sangue corria forte, descia e subia pelo meu corpo numa velocidade inacessível. Meus músculos pulsavam. Sentia a lagrima saindo pelo seu canal e indo a direções de meus olhos. Meus poros se fecharam e meu suor aos poucos foi se contendo. Sentia ainda ele escorrendo pelos meus cabelos, sentia o tecido molhado por ele nas costas. Meus pés formigavam. E meus seios ficaram eriçados. Observei minha respiração que estava bastante tranqüila, com se estivesse dormindo um sono bem leve. Senti um cheiro de alecrim com hortelã como o de um suco que uma vez tomei numa barraca na beira da estrada. Fui a fim de recordar todo aquele gosto, mais nada me vinha além de sua cor: um verde amarelado que tangia toda a nervura das folhas, quase que conseguia tocar o acamurçado que elas tinham.
Logo em seguia havia mudado alguma coisa em mim ou fora de mim que não sabia o que era, abri meus olhos e era a luz que havia apagado, me veio uma tristeza por não ter morrido, por não ter ido mais longe nesse caminho claro e frágil, onde tudo poderia começar a fazer sentido. Onde talvez pudesse me encontrar de verdade, me desfazer da matéria e realmente ver de que cor eu sou. Senti minha boca seca, minha pele voltou a ferver, de repente tudo ficou muito escuro, uma escuridão que nunca imaginei existir, e apos minutos tentando desvendar alguma coisa que fizesse sentido em tudo isso que estava acontecendo, deparei-me com uma luz bem longe, uma luz pequena e de amarelo ouro. Pressenti alguma presença perto, não tive medo, mas também não estava segura. Sem ao menos pensar, joguei-me ao encontro daquela pequena luz que me chamava muita atenção e em segundos pensei ser a única saída para tudo aquilo. Por uns minutos depois da luz tudo era negro novamente e meus pensamentos não eram límpidos, não tinha nenhuma união uns com os outros, parecia-me aquelas seqüência cinematográficas que todos falam ter quando quase morrem. Sentia-me perplexa no meio da escuridão, fechei meus olhos, fiquei um tanto quieta dentro de mim e quando resolvi abrir os olhos, estava deitada, a minha frente havia somente as vigas de madeira do beliche em que dormia eu e meu irmão. Olhei para os lados, nada de diferente. Só meu quarto de sempre, minhas coisas no chão, o dia na janela e mais um sonho árido. Desdenhoso. Rude. Áspero e arisco, que me fez suar enquanto o vivia.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Canso de dizer as paredes do meu quarto o quanto meu coração vagabundo anda vazio com tanto sorriso jogado ao vento. Ontem mesmo, eu era uma menininha indefesa, procurando um caminho fácil só pra não se perder. Hoje, as sombras dos meus passos andando pela rua me dão medo, e percebo que cada vez mais, torno-me angustiada por tentar fazer tudo direitinho, e mesmo assim, não consigo tirar um suspiro do peito se quer, por ventura. Acabo acreditando nas minhas próprias histórias que me conto antes de dormir, elas que vivem cheias de aventuras, cheias de amor e esperança, barulhos do mar e um lindo por do sol. Mas quando acordo no meio da noite olho para os lados e nada me acompanha no escuro do meu quarto. Fico só eu e a solidão, que nessas horas me invadem cada vez mais. Perfurando meu peito, desdando meus seios, conjugando o nó dos meus dedos junto o da minha garganta. Minhas lágrimas não cessam. E não existe nada que as façam parar. Quando me perguntam, já nem sei mais o que as fazem rolar, já não me lembro quando tudo isso começou. Não acredito que seja só um momento de sensibilidade, pois até nos racionais eu me comporto esquisitamente da mesma maneira, como se não tivesse pés, como se não soubesse andar sozinha. Como se morresse de medo de me molhar na chuva linda que cai lá fora, com o por do sol dos meus sonhos, céu azul turquesa, nuvens pela metade, algumas rosas, outras roxas. Não acredito que seja tão fraca assim. Sempre achei que meu nome me daria bons frutos, boas energias e fluidos, mas o que me parece é que sempre tentarei chegar a algum lugar que não existe, ou então, que se encontra distante demais da minha disposição. Sufoco. Transbordo. Choro e adormeço. Esse é o eterno dilema da minha religião. Talvez me falte coragem, talvez, vontade de ser outra coisa se não esse corpo completamente imaturo e intolerável. Queria cheirar as rosas e sorrir de felicidade. Esperança que tenho - a unicazinha que existe aqui dentro - é de um dia sorrir e me ver girassol.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Nostalgia é o temperozinho


De repente lembrei-me daquela voz doce com a tentativa de me equilibrar, dizendo que as coisas sempre são mais fáceis do que a gente imagina, mas lembro que naquela época as coisas não eram fáceis, por mais que eu tentasse enxergá-las assim, me via caído todos os dias em um poço sem fundo. Era um abismo que eu mesmo criava. Gostava disso, de estar amargo às vezes, acreditando que o mundo todo estava contra mim. Que nada me satisfazia e que nunca conseguiria encontrar alguém que amasse de verdade.
Ele estava ali o tempo todo, com aqueles olhos de gato manso, daqueles que te olham fechando os olhos. Tão mole e tão inconsciente de sono que me hipnotizava. Contava histórias e às vezes me fazia dormir com elas. Mostrava todos os tipos de música que nunca imaginaria escutar um dia, e hoje é o que mais escuto.
Antes de cairmos no Martini com gelo no boteco de azulejos azuis, com aqueles bancos altos que eu nunca conseguira sentar e ao mesmo tempo relar meus pés no chão; naquele lugar aonde já chegávamos passados, e mesmo assim, continuávamos a conversar coisas e planejar coisas que hoje nem consigo me lembrar; antes de nesse mesmo boteco, observar seus movimentos e como seus lábios se mexiam, e como seus olhos ficavam ainda mais bonitos com aquela luz vermelha daquele refletor... Lembro que a primeira vez que ousei olhar no fundo dos seus olhos, também havia uma luz neles, uma daquelas vagabundas, que piscam a noite inteira. Ele lia Alice no País das Maravilhas no chão da pior praça da cidade. Eu ficava louco. Fascinado com aquela história. Nunca ninguém havia me contado histórias do jeito que ele contava.
Sentia-me uma criança com meus dezessete anos, matando aula para brincar a noite escondido da minha mãe, nos brinquedos que não subia há anos. E nos divertíamos tanto. Gritávamos.
Ele me fez enxergar o mundo que estava em minhas mãos e me fez acreditar que tudo não passa de um sonho. E uma coisa aprendi com isso: que nos sonhos podemos tudo, e, eles às vezes acontecem de forma que não queremos, mas com um pouco de mudança na nossa mente, um pouco de desejo, levamos o sonho para outro estágio, assim, tornamos ele, outra coisa. Criamos outra história.
Nossas longas conversas e fantasias eram tão intensas, que no ônibus a caminho de casa, meu caderno ia enchendo de palavras, de histórias inventadas, mas o movimento do ônibus me fez escrever rabiscos; e às vezes quando tentava ler novamente, não entendia nada, aqueles contos se transformaram em garatujas de criança. Acho que era o que estava sendo mesmo, uma criança adulta querendo enxergar o mundo adulto com um pouco de infantilidade.
Confesso que foi a melhor época da minha vida, apesar de não ser livre totalmente - e sempre conversávamos sobre a liberdade que teríamos um dia - fazia loucuras que nunca mais consegui fazer e essa tal liberdade só apareceu nos sonhos, porque a gente sempre se prende alguma outra coisa.
Conheci o mundo através dos óculos dele e me encontrei tão amarelo, que nada que fosse dessa cor podia ser mais que eu.
Um dia choveu muito, estávamos ilhados em um toldo na rua. Então fomos a uma banca que sempre comprávamos cigarros e sorvetes de uva, eles vendiam guarda-chuvas, compramos um e acabamos com todo o dinheiro que tínhamos. Só nos restaram a garrafa de Martini e o guarda-chuva. Nós dois. Na rua, feito lobos uivando com nossas cantorias e promessas malucas de uma amizade eterna.
Hoje já não gosto tanto dos abismos, nem abro espaço no meu mundo para poder criá-los. Aliás, até ouso pensar nele às vezes, mas só quando é para me levar para o lugar onde mais gosto de estar. Aquele lugar que ele me incentivou tantas vezes, daquele que provei algumas e nunca mais consegui parar de provar. Agora vivo a procura disso, também vivo encontrando. Ele me ensinou a me atirar nas paixões e me entregar como jamais deve ter se entregado há ninguém.

Não sei se foi falha minha, mas se nunca falei nada é porque acreditava que ele já sabia quê: se atirar num abismo sozinho não é a mesma coisa que estar num rio sendo levado pela correnteza.

sábado, 2 de janeiro de 2010

30/10

sua ausência é feito um rio
que de tanto correr
se perde em qualquer margem
se desfaz
amadurece.
e estraga
renasço o tempo inteiro para não desfazer meu sentimento
sinto a vida correr
passo por um triz da morte,
mas quando penso nos seus olhos
me olhando,
perdidos no meu desconcerto
refaço o mundo um milhão de vezes.

nunca fui tão inteira,
mas mesmo assim,
você se afasta como se eu fosse choque
como se tivesse muita eletricidade na pele.
mas o fato de me tomar feito cachoeira em pleno verão,
é tão devasto e tão entorpecedor
que corrompe todas minhas veias,
que desvirtua minha artéria.
eu amo, eu choro
e cresço a cada instante,
isso me assusta tanto
que penso na morte

só pra poder nascer e ser diferente enquanto criança.