.

terça-feira, 30 de junho de 2009

há tempos não tomava um banho de chuva andando de bicicleta como hoje tomei. deixei a boca entreaberta e senti o gosto do infinito trazido pelo céu. céu branco com renuncias de cinza. minha respiração era completamente inteira, e aos meus ouvidos, vinha uma canção que marcou demais minha vida há uns anos atrás. acelerada, comecei a vasculhar minha memória e achei imagens vinda de uma linda melancolia que carregava no peito, mas nunca tinha tido coragem de enfrentar.
naveguei como um barco lento, quase chegando no cais. no meio disso tudo, encontrei ela, perdida e ilesa, sentada numa grama qualquer, com pernas de índio e um caderno em branco no colo. ela olhava a página em branco com tanta ternura, que pensei que pudesse haver alguma janela invisível que só ela mesma via. o lápis na mão fazia movimentos de uma espiral, mais em momento algum, este tocava na folha.
o que será que pensava naquele momento tão inoportuno do dia?
um dia tão vazio que não havia sentido para um amor começar ali.
duvidei intensamente da minha imaginação, que criava um novo amor a cada mês, e neste, me encantava inteira por tudo que era estético vindo dela. os joelhos dobrados, um pé mais inclinado que o outro, a composição das blusas, cores diferentes demais uma da outra. cabelo inquieto, molhando, ventando...
até que ela deve ter percebido alguma presença estranha, olhou para o lado e me viu. senti um desespero tão grande, uma imensa vontade de sumir e de rir, mas não consegui fazer nenhum dos dois. continuei ali, olhando da mesma forma que olhava, só que agora enxerguei seus olhos.
e incansavelmente, gritei inúmeras vezes para mim mesma o quanto eles eram lindos e profundos.
pareciam não ter fim.
em cima da bicicleta, lhe dei um sorriso de canto como quem diz que ainda vamos nos encontrar, continuei pedalando, sentindo uma estranha sensação de frio e calor. não conseguia mais pensar em nada que não fosse aquilo. que não fosse ela. quis ser poeta para poder descrever tudo limpidamente.
cheguei em casa toda molhada, me enxuguei, tentei me recompor, mas não dava, estava imersa, noutro lugar.
estranho foi o gosto de amora que ficou na minha boca.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

no mundo simplesmente respiro e tranbordo.
minha angústia é tão vazia quanto o buraco que existe no peito de Chico. tão estúpida agônia, quanto a de ter um último cigarro e todos os fósforos da caixinha já não terem mais pólvora.
ser eu, é ter uma espada que não corta. uma ilusão sem cor, sem forma, sem sabor, mas com muito perfume. como uma música bem tocada. a minha angustia é que todas as moléculas do meu corpo são feitas de saudade, e meu corpo acaba sendo tão atemporal, tão atemporal, que congelo.
sou excesso. sou devaneio. completamente reconexo.
transcendo, corro, navego, navego e choro. navego e choro.
as nuvens cinza de ontem, falam muito mais de mim do que da chuva que ia cair. sou tão nublado que temporal nenhum chove mais do que chove aqui dentro. tão errado, tão confuso. tão terrivel e bandido que nem eu, às vezes, acredito que existo. duvido.
em busca de mim, de um traço que traduza o que sou, percebo que estou cada vez mais longe e quando chego perto, me mudo, me troco. mudo de rosto, de forma. mudo a máscara. e quando, admito que mudei a máscara -BUM
o choque das coisas. choque de sabor. choque de cor. transições. muita dor. só depois que conhecemos as dores da alma, o contato com a angústia quando deciframos o significado do que se sente e que não vem de nenhum corte que se cura com band-aid.
vivo escondido dentro dos meus eus. escondido e perdido.
é como morder por um bom tempo o plástico que encapa a gominha de mel, e quando você menos espera, ele explode adormecendo com o doce, tudo que é seco na boca.
morro mais cedo, sempre mais cedo que minha própria morte.