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quarta-feira, 3 de abril de 2013

desvio


um dia quanto eu estiver inteira,
talvez eu escreva sobre a insegurança
que me falha
toda vez que nos olhos de outro
parece existir um porto;
ser inteira não deve ser um privilégio de muitos,
eu nem com sortilégios
e marés de velas
tenho conseguido;
meu erro está na mente
que mente e atua
como uma folia passageira.
eu preso a memória, mas não a adentro
por isso me vejo embicada em vazios cheios
em redundâncias remotas.
ainda trocando as máscaras
pulando fases...
desde criança salto os muros,
não me encontro nas passagens corriqueiras e cotidianas.
não abro portões, não fecho janelas.
sinto que vivo um eterno desvio
por isso a dificuldade em aprofundar em mim
e no que acredito serem extensões mínimas, mas minhas.
crio histórias em que me burlo.
acredito friamente nas minhas mentiras
e no fundo, morro de medo dos meus devaneios,
deveras
severos
que são.
intrínseca foi uma parte longínea da minha construção,
que parece ter desconstruído
todo aquele império em que eu habitava.
fui criando cascas,
veladuras,
só para não sofrer nem sentir
qualquer alfinetada.
fui envergando-me
em meio a esta abstração de condutas
(impondo; impostas; em compostas)
lançar-me na fogueira por me sentir crua?
a vida parece não passar de um espelhismo
onde acreditamos nos reconhecer nas coisas
sem perceber
que as coisas é que se reconhecem em nós.
narciso não se viu
mas acreditou que seu suposto reflexo,
em movimento,
o levaria para alguma queda
mais importante
que os pés na terra
longe das margens,
distantes das curvas
onde param as coisas que não aguentam
serem levadas junto à correnteza
narciso quis o fluxo
não sua própria imagem.
eu pairo
nem imagem
nem fluxo
desvio de toda aproximação do eu

 enquanto me perco
            tateando o mundo

      intimamente compreendo
               as coisas que 
            não deveria tocar