Canso de dizer as paredes do meu quarto o quanto meu coração vagabundo anda vazio com tanto sorriso jogado ao vento. Ontem mesmo, eu era uma menininha indefesa, procurando um caminho fácil só pra não se perder. Hoje, as sombras dos meus passos andando pela rua me dão medo, e percebo que cada vez mais, torno-me angustiada por tentar fazer tudo direitinho, e mesmo assim, não consigo tirar um suspiro do peito se quer, por ventura. Acabo acreditando nas minhas próprias histórias que me conto antes de dormir, elas que vivem cheias de aventuras, cheias de amor e esperança, barulhos do mar e um lindo por do sol. Mas quando acordo no meio da noite olho para os lados e nada me acompanha no escuro do meu quarto. Fico só eu e a solidão, que nessas horas me invadem cada vez mais. Perfurando meu peito, desdando meus seios, conjugando o nó dos meus dedos junto o da minha garganta. Minhas lágrimas não cessam. E não existe nada que as façam parar. Quando me perguntam, já nem sei mais o que as fazem rolar, já não me lembro quando tudo isso começou. Não acredito que seja só um momento de sensibilidade, pois até nos racionais eu me comporto esquisitamente da mesma maneira, como se não tivesse pés, como se não soubesse andar sozinha. Como se morresse de medo de me molhar na chuva linda que cai lá fora, com o por do sol dos meus sonhos, céu azul turquesa, nuvens pela metade, algumas rosas, outras roxas. Não acredito que seja tão fraca assim. Sempre achei que meu nome me daria bons frutos, boas energias e fluidos, mas o que me parece é que sempre tentarei chegar a algum lugar que não existe, ou então, que se encontra distante demais da minha disposição. Sufoco. Transbordo. Choro e adormeço. Esse é o eterno dilema da minha religião. Talvez me falte coragem, talvez, vontade de ser outra coisa se não esse corpo completamente imaturo e intolerável. Queria cheirar as rosas e sorrir de felicidade. Esperança que tenho - a unicazinha que existe aqui dentro - é de um dia sorrir e me ver girassol.
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quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
quarta-feira, 6 de janeiro de 2010
Nostalgia é o temperozinho
De repente lembrei-me daquela voz doce com a tentativa de me
equilibrar, dizendo que as coisas sempre são mais fáceis do que a gente
imagina, mas lembro que naquela época as coisas não eram fáceis, por mais que
eu tentasse enxergá-las assim, me via caído todos os dias em um poço sem fundo.
Era um abismo que eu mesmo criava. Gostava disso, de estar amargo às vezes,
acreditando que o mundo todo estava contra mim. Que nada me satisfazia e que
nunca conseguiria encontrar alguém que amasse de verdade.
Ele estava ali o tempo todo, com aqueles olhos de gato
manso, daqueles que te olham fechando os olhos. Tão mole e tão inconsciente de
sono que me hipnotizava. Contava histórias e às vezes me fazia dormir com elas.
Mostrava todos os tipos de música que nunca imaginaria escutar um dia, e hoje é
o que mais escuto.
Antes de cairmos no Martini com gelo no boteco de azulejos
azuis, com aqueles bancos altos que eu nunca conseguira sentar e ao mesmo tempo
relar meus pés no chão; naquele lugar aonde já chegávamos passados, e mesmo
assim, continuávamos a conversar coisas e planejar coisas que hoje nem consigo
me lembrar; antes de nesse mesmo boteco, observar seus movimentos e como seus
lábios se mexiam, e como seus olhos ficavam ainda mais bonitos com aquela luz
vermelha daquele refletor... Lembro que a primeira vez que ousei olhar no fundo
dos seus olhos, também havia uma luz neles, uma daquelas vagabundas, que piscam
a noite inteira. Ele lia Alice no País das Maravilhas no chão da pior praça da
cidade. Eu ficava louco. Fascinado com aquela história. Nunca ninguém havia me
contado histórias do jeito que ele contava.
Sentia-me uma criança com meus dezessete anos, matando aula
para brincar a noite escondido da minha mãe, nos brinquedos que não subia há
anos. E nos divertíamos tanto. Gritávamos.
Ele me fez enxergar o mundo que estava em minhas mãos e me
fez acreditar que tudo não passa de um sonho. E uma coisa aprendi com isso: que
nos sonhos podemos tudo, e, eles às vezes acontecem de forma que não queremos,
mas com um pouco de mudança na nossa mente, um pouco de desejo, levamos o sonho
para outro estágio, assim, tornamos ele, outra coisa. Criamos outra história.
Nossas longas conversas e fantasias eram tão intensas, que
no ônibus a caminho de casa, meu caderno ia enchendo de palavras, de histórias
inventadas, mas o movimento do ônibus me fez escrever rabiscos; e às vezes
quando tentava ler novamente, não entendia nada, aqueles contos se
transformaram em garatujas de criança. Acho que era o que estava sendo mesmo,
uma criança adulta querendo enxergar o mundo adulto com um pouco de
infantilidade.
Confesso que foi a melhor época da minha vida, apesar de não
ser livre totalmente - e sempre conversávamos sobre a liberdade que teríamos um
dia - fazia loucuras que nunca mais consegui fazer e essa tal liberdade só
apareceu nos sonhos, porque a gente sempre se prende alguma outra coisa.
Conheci o mundo através dos óculos dele e me encontrei tão
amarelo, que nada que fosse dessa cor podia ser mais que eu.
Um dia choveu muito, estávamos ilhados em um toldo na rua.
Então fomos a uma banca que sempre comprávamos cigarros e sorvetes de uva, eles
vendiam guarda-chuvas, compramos um e acabamos com todo o dinheiro que
tínhamos. Só nos restaram a garrafa de Martini e o guarda-chuva. Nós dois. Na
rua, feito lobos uivando com nossas cantorias e promessas malucas de uma
amizade eterna.
Hoje já não gosto tanto dos abismos, nem abro espaço no meu
mundo para poder criá-los. Aliás, até ouso pensar nele às vezes, mas só quando
é para me levar para o lugar onde mais gosto de estar. Aquele lugar que ele me
incentivou tantas vezes, daquele que provei algumas e nunca mais consegui parar
de provar. Agora vivo a procura disso, também vivo encontrando. Ele me ensinou a
me atirar nas paixões e me entregar como jamais deve ter se entregado há
ninguém.
Não sei se foi falha minha, mas se nunca falei nada é porque
acreditava que ele já sabia quê: se atirar num abismo sozinho não é a mesma
coisa que estar num rio sendo levado pela correnteza.
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medade cheio de nada,
metade cheio de tudo
sábado, 2 de janeiro de 2010
30/10
sua ausência é feito um rio
que de tanto correr
se perde em qualquer margem
se desfaz
amadurece.
e estraga
renasço o tempo inteiro para não desfazer meu sentimento
sinto a vida correr
passo por um triz da morte,
mas quando penso nos seus olhos
me olhando,
perdidos no meu desconcerto
refaço o mundo um milhão de vezes.
nunca fui tão inteira,
mas mesmo assim,
você se afasta como se eu fosse choque
como se tivesse muita eletricidade na pele.
mas o fato de me tomar feito cachoeira em pleno verão,
é tão devasto e tão entorpecedor
que corrompe todas minhas veias,
que desvirtua minha artéria.
eu amo, eu choro
e cresço a cada instante,
isso me assusta tanto
que penso na morte
só pra poder nascer e ser diferente enquanto criança.
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